Crônicas de algodão: Sem sinal


     Eu estava à caminho do curso de inglês, sonolenta, quando atentei para o engarrafamento que iniciara na avenida em que trafegava com minha mãe, Raquel, de carro. Entreolhamo-nos e, em seguida, apoiamos a cabeça no encosto das poltronas, já um pouco desesperançadas em sair daquele trânsito rapidamente.
     Lemos revistas e jornais que encontravam-se nos bancos traseiros, ouvimos desde o blues ao rock internacional e até discutimos sobre as propostas dos candidatos à prefeito de nossa cidade, mas parecia que o trânsito quilométrico havia sido congelado.
     Entediada, resolvi dar o meu grito de independência através de uma mensagem digitada no bloco de notas em meu celular naquele momento: "Que chato! Preciso sair daqui e não vejo nenhum carro avançar de posição.", disse eu na mensagem. No mesmo instante, ativei o Bluetooth do celular e a enviei para o primeiro nome da lista de quem tinha o sinal disponível nas redondezas. "Realmente, vamos passar a tarde inteira aqui. Que calor!", chegou como resposta em seguida. Quem seria tal pessoa? Bem, gostei da atenção dela. Mandei mais algumas mensagens para a mesma e, assim, passamos a tarde e o começo da noite nos comunicando. 
     "Você me parece ser tão gentil! És homem ou mulher?", interroguei-lhe, ansiosa com a resposta. "Obrigado! Sou rapaz e estou encantado com o seu sorriso!". Ele viu o meu sorriso? Onde? Será que eu enviei uma foto a ele por engano? Fiquei estática. "Meu sorriso está estampado em meu rosto desde que começamos a conversar. Qual o seu número para não perdermos o contato, rapaz?".
     Ouvimos um barulho com uma maior intensidade vindo de fora do carro; eram os passageiros e motoristas que estavam à nossa frente comemorando, pois o trânsito havia saído da inércia, finalmente. Precisei compartilhar tamanha alegria com meu novo colega, mas quando digitei a mensagem em que eu descrevia a minha felicidade, não consegui mais encontrar sinal para o compartilhamento. Perdemos o contato. Ele já deveria estar um pouco longe do carro de minha mãe, infelizmente. O que sei é que eu não tirei mais a felicidade de minha face dali em diante. Vai que ele me identificasse em meio a alguma multidão ou até mesmo em um outro engarrafamento em algum lugar de nossa cidade, agora, através de meu sorriso!


Por: Carol Costa


2 comentários:

  1. Adorei a crônica, muito criativa!

    Thoughts-little-princess.blogspot.com

    Seguindo! E obrigada por me avisar sobre o seu blog no skoob.

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  2. Flávia, obrigada querida!
    Darei uma mega passada lá no seu também.
    Volte sempre, ok?

    Bjs.

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