As coisas são como são. Se alguém diz que está calmo, é porque está
calmo. Se alguém diz que te ama, é porque te ama. Se alguém diz que não
vai poder sair à noite porque precisa estudar, está explicado. Mas a
gente não escuta só as palavras: a gente ouve também os sinais.
Ele telefonou na hora que disse que ia ligar, mas estava frio como um
iglu. Você falava, falava, e ele quieto, monossilábico. Até que você o
coloca contra a parede: "O que é que está havendo?". "Nada, tô na minha,
só isso." Só isso???? Aí tem.
Ele telefonou na hora que disse que ia ligar, mas estava exaltado
demais. Não parava de tagarelar. Um entusiasmo fora do comum. Você
pergunta à queima-roupa: "Que alegria é essa?" "Ué, tô feliz, só isso".
Só isso????? Aí tem.
Os tais sinais. Ansiedade fora de hora, mudez estranha, olhar perdido,
mudança no jeito de se vestir, olheiras e bocejos de quem dormiu pouco à
noite: aí tem. Somos doutoras em traduzir gestos, silêncios e atitudes
incomuns. Se ele está calado demais, é porque está pensando na melhor
maneira de nos dar uma má notícia. Se está esfuziante demais, é porque
andou rolando novidades que você não está sabendo. Se ele está carinhoso
demais, é porque não quer que você perceba que está com a cabeça em
outra. Se manda flores, é porque está querendo que a gente facilite
alguma coisa pra ele. Se vai viajar com os amigos, é porque não nos ama
mais. Se parou de fumar, é uma promessa que ele não contou pra você.
Enfim, o cara não pode respirar diferente que aí tem.
Às vezes não tem. O cara pode estar calado porque leu um troço que mexeu
com ele, ou está falando muito porque o time dele venceu. Pode estar
mais carinhoso porque conversou sobre isso na terapia e pode estar mais
produzido porque teve um aumento de salário. Por que tudo o que eles
fazem tem que ser um recado pra gente?
É uma generalização, mas as mulheres costumam ser mais inseguras que os
homens no quesito relacionamento. Qualquer mudança de rota nos deixa em
estado de alerta, qualquer outra mulher que cruze o caminho dele pode
ser uma concorrente, qualquer rispidez não justificada pode ser um
cartão amarelo. O que ele diz importa menos do que sua conduta. Pobres
homens. Se não estão babando por nós, se tiram o dia para meditar ou
para assistir um jogo de vôlei na tevê sem avisar com duas semanas de
antecedência, danou-se: aí tem.
(Martha Medeiros)