Crônicas de algodão: Nadando no não-paraíso.



- Com bastante recheio, por favor!

O churros de Alice estava uma delícia, como sempre. Já era de praxe comprá-lo enquanto esperava o seu ônibus chegar no ponto em que ficava. Ela o comia com tanta vontade que o recheio de doce-de-leite sempre escapava pros lados. Até que uma mosquinha, ziguezagueando por aquele lugar, atentou para aquele recheio que lhe parecia delicioso. Não deu em outra: ela lá pousou. 

- Ufa! Chegou.

E, assim, a garota subiu no ônibus que a levaria a seu destino, e quando viu a danada da mosca, deu-lhe um sopapo com o dedo que a coitada foi parar longe, bem em um acento que estava vago. 

Seu instinto lhe avisou que ali era perigoso, e não falhou. Eis que uma senhora muito espaçosa e cheia de sacolas surgiu entre os passageiros e foi sentando naquela cadeira. 

Antes que não pudesse mais sair, a mosca voou para a boca de uma jovem justo na hora em que seu namorado iria beijá-la. Não deu em outra: a mosca foi expulsa mais uma vez, parando na página 147 do livro de um homem que, por sinal, o fechou, pois já iria dar sinal para descer do ônibus. 

Arrastando-se como podia, ela, para a sua sorte, conseguiu sair da linha em que fora presa e, depois, do livro. Obviamente tonta, a mosca caiu no pé de uma outra passageira, a qual, ao sentir o bichinho encostando nela, chutou-lhe pro lado como quem chutava uma bola de futebol. 

Pensando que, finalmente, estaria livre de todas aquelas pessoas que tentaram ceifar a sua vida, não percebeu que havia pousado na direção do ônibus, o que piorou a sua situação, pois ficou mais tonta ainda com todos aqueles giros que o motorista fazia ali.

Após uma, duas, três voltas, caiu no chão, mas foi tentando voar, mesmo que baixo, até algum lugar em que pudesse se ver livre de todos. E assim, ela foi subindo em um ferro gigante e quase foi atingida por uma mão. Ufa! 

Seguindo o seu trajeto, a mosca conseguiu andar até uma corda horizontal preta, onde quase ia caindo por falta de equilíbrio, mas ficou aliviada por ali ser alto demais para que aquela multidão lhe atingisse.

Foram 5 segundos de felicidade, até que um passageiro puxou a corda para baixo e gritou que iria descer na próxima parada. Quando a corda subiu, a mosquinha foi impulsionada para cima e caiu, logo após, em um chocolate que uma garota comia. Feliz por ele ser muito adocicado, não percebeu que ela e o chocolate voaram pela janela do ônibus, espatifando-se no chão da avenida. Bem, do ônibus ela já havia conseguido sair. 

O sinal fechou e, para o seu azar ser completo, foi atingida por um líquido, onde nadou por algum tempo até afundar e morrer.

- Mãe, me dá um pano ou alguma outra coisa. Acabei de vomitar.


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